Pré-lançamento de meu livro Mosaico

Caros visitantes, informo que já estão comigo alguns exemplares de meu livro Mosaico (poesia), ISBN 978-85-7869-222-3, com 142 páginas (editado por uma prestadora de serviços editoriais de São Paulo-SP), a ter talvez um pré-lançamento na próxima sexta-feira, à noite (24/06/2011), na UFT/Araguaína. A bela ilustração de capa é de autoria da artista plástica Eliane Testa. O trabalho editorial, tanto da capa como do miolo, tem excelente qualidade. Meus alunos aprovaram. O preço de capa do livro é de 20 reais. Segue abaixo o refinado prefácio do livro, feito pela doutora em Teoria da Literatura, Hilda Dutra Magalhães, professora/pesquisadora do Mestrado em Ensino de Língua e Literatura/MELL da UFT. Caso queiram adquirir um exemplar é só me contatar. Para isso, basta ir (abaixo de meus dados biográficos) em Visualizar meu perfil completo e clicar que será direcionado à próxima página, onde poderá visualizar meu e-mail. Janete Santos

Prefácio

Mosaico: reflexões sobre a estética do Século XXI

Edgar Morin, o filósofo da Complexidade, ensina-nos que a realidade é estabelecida por interações entre elementos diversos. Do mesmo modo, a vida resulta de uma teia e só pode ser compreendia por um olhar da mesma forma complexo.
No caso da literatura, uma das características que a definem na era da globalização é a pluralidade de linguagens, que inclui uma clara atualização da poética e dos saberes do Século XX. Essa característica pode ser observada na obra Mosaico, de Janete Santos, que, conforme o título sugere, se sustenta, ao mesmo tempo, na diversidade e na ordem orquestradas por uma atitude metalingüística não apenas temática, mas também estrutural.
De fato, acompanhando uma tendência que se iniciou no final da década de 1980, a poesia de Janete Santos se constrói como se fizesse um inventário das formas poéticas, através do qual se expressa um eu tanto subjetivo quanto coletivo, em permanente processo de construção. Assim, perpassando a diversidade temática e resgatando as poéticas do passado, um eu/nós se constrói e se reconstrói a partir de sua relação com a poesia, com o outro, com a própria subjetividade, enfim, na sua relação com as alteridades.
Nestes termos e orientando-se por um olhar plural e pluralizante, Mosaico apresenta como eixo um contínuo processo de ressignificação do mundo. A diversidade está representada na estrutura do volume, dividido em Do poético, Do olhar, Do cotidiano, Delirantes, (dês)amando, Da solidão, De vida e morte, De homenagem, Dissonetos, Discordel, De tercetos (sem títulos) e De tercetos (com títulos). Em cada uma dessas subdivisões, o leitor é presenteado com textos estruturalmente bastante variados. Assim, ele se deparará com poemas épicos, líricos, filosóficos, tercetos, sonetos, dísticos, enfim, construções de todas as formas, justificando o título da obra.
                Não irei aqui comentar toda essa plêiade de possibilidades. Buscando situar o livro no contexto estético da atualidade, limito-me a chamar a atenção do leitor para dois poemas de natureza metalingüística: Drumondiando versos curiosos e ó, originalidade. Escolho-os pelo fato de que, em geral, os poemas metalingüísticos podem nos fornecer a chave para a compreensão da consciência estética do escritor e do que ele privilegia no seu fazer poético.
Assim, o primeiro reflete uma série de dúvidas sobre a identidade do ser poético na atualidade, como podemos ler abaixo:


por que ainda se escrevem poemas?

por que ainda se leem poemas?

por que ainda existem poetas?

seriam os poemas uma volta ao elo perdido
onde o homem é mais sujeito que objeto?

seriam os leitores caprichosos consumidores
de inutilidades?

seriam os poetas um tipo esquizofrênico,
sempre rabiscando mundos paralelos?

se tiveres respostas e fores poeta,
responde-me com teus versos

se tiveres respostas e não fores poeta,
começa a sê-lo dizendo-me o que pensas

porque
nos dias de hoje

(como nos de ontem, de anteontem, de...)

escritor e leitor

ainda

poetam

Como o leitor pode perceber, a busca do sentido da poesia e de tudo que lhe diz respeito toma forma no texto. Sem apresentar respostas, a autora convida o escritor/leitor não apenas a assumir as questões apresentadas, mas também a tentar respondê-las, sendo que a única certeza apontada pelo texto é a perenidade da poesia na vida humana.

Já o segundo (ó, originalidade) , como se fosse uma espécie de resposta a alguns dos questionamentos levantados no poema anterior, questiona a rebeldia da poesia, ao mesmo tempo em que afirma o direito do eu lírico à fruição da poesia lírica, sem pretensões vanguardistas:

não aprendi a ser rebelde como os rebeldes originais
não sei ser revoltada como os revoltados tradicionais
que xingam Deus e o mundo, o pai e a mãe,
como o fizeram os antigos e continuam fazendo
os atuais
não obstante,
estou revoltada contra a exigência de originalidade
quero o direito garantido à mediocridade;
direito a ser rebelde comedida;
direito a cruzar os braços e ver o tempo passar;
direito a admirar o céu estrelado, o celeste do céu
e a chuva que cai;
direito a contar carneirinhos de nuvens como os caipiras,
caboclos e a menina matuta,
e como os poetas primevos dizer que as nuvens
são pó de algodão;
direito a assistir dez vezes ao mesmo filme
e chorar do mesmo jeito
como se fosse a primeira vez

e sem teu delinqüente assédio moral

Como é possível observar, há uma concepção de poesia que não mais está condicionada à ditadura da experimentação, o que marca uma diferença fundamental entre a estética do Século XX e a do Século XXI: neste, ser rebelde é justamente não ser rebelde. Do mesmo modo, ser original não significa necessariamente ser experimental, o que permite ao leitor visualizar a poética de nossos dias ao mesmo tempo como soma e contraponto em relação à do século passado.
A vanguarda, aliás, não apenas não mais atrai o poeta como também é vista como um fardo, negado pelo desejo de simplesmente fruir, sentir o poético. Entretanto, essa atitude não implica na inexistência de um saber técnico. De fato, lendo os textos, percebemos claramente a presença da tradição literária do Século XX na forma como a autora brinca com as palavras e com as formas. Todavia, não se trata de um resgate gratuito, mas consciente, dentro de uma “rebeldia comedida”.
 E é dentro dessa rebeldia comedida que todo o livro pode ser visto como reiteração dos dois poemas aqui transcritos, ou seja, permanente atualização das questões apresentadas pelo primeiro e ao mesmo tempo tentativa de resposta às questões apresentadas no segundo. Assim é que, ao fim e ao cabo, o leitor pode, depois de imergir neste espaço marcado pelo dialogismo estrutural e conteudístico, construir ele também sua(s) resposta(s) não apenas sobre as questões estéticas, mas sobre si mesmo, enquanto sujeito/cidadão do mundo da complexidade, tão bem representado pelo belo livro com que a autora nos presenteia.


Hilda Gomes Dutra Magalhães
Doutora em Teoria da Literatura,
 Docente do Mestrado em Ensino de Língua e Literatura e do Curso de Letras da UFT/Campus de Araguaína-TO.



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