Umberto Eco e a Cultura do livro


Não vou falar especificamente nem de Eco nem dum livro. O título deste post é até uma fraude, "pu-lo" aí (xiii, já pensou que arcaísmo acabei de postar aqui? Por que fiz isso?! Sei que, pragmaticamente 'falando', tal forma pode ser considerada trash, mas fica assim mesmo, proporcionando intercalações cansativas [meu maior defeito talvez: 'complicando' o raciocínio do leitor, mesmo sem querer], afinal, como se brincava já na capa de uma certa gramática palhaça: fi-lo porque qui-lo!) apenas para fisgar leitor mais exigente, que talvez se aborreça e nem leia mais o restante do que escrevo. Mas aviso: irá perder pequeno banquete! (rs). Se conseguir prosseguir, será um herói...

Numa discussão sobre leitura livresca (há leituras não-livrescas, evidentemente), numa de minhas aulas na universidade, certa aluna, de mais de trinta anos, sentindo-se à vontade para manifestar sua forma de pensar sobre a questão (o que julgo fundamental na formação do cidadão, mormente num curso que forma professor), declarou sem rodeios o porquê de não gostar de ler literatura (ficção): “eu que não vou viver, de livre vontade, perdendo meu tempo, e minha energia, lendo páginas e páginas de livros, sabendo que tudo não passa de invenção, de mentiras! Tenho coisas mais importantes e urgentes pra fazer!”

Ao ouvir aquilo, lembrei, então, de Eco pontuando, em uma de suas obras, que o leitor suspende a ideia de que o que lê é ficção, ou seja, para poder interagir com a narrativa (efetuar e prosseguir a leitura, gastar energia nesta ação), o leitor estabelece certa relação de credibilidade com as “invenções” do autor. Percebi que a aluna em questão (hoje é professora e talvez tenha mudado de opinião), não se opunha a concepção de Eco, pois, exatamente por não aceitar submeter-se a esse jogo que a arte impõe/sugere, ela não enfrentava o desafio de virtualizar páginas e letras de ficção em algo que lhe rendesse algum benefício. Ora, vivendo numa sociedade capitalista, a aluna calculava percentual de perdas e ganhos numa empreitada como essa! E não se pode/deve condená-la em hipótese alguma, o que justifico mais abaixo.

Evidentemente tive de providenciar (apelar para), meio que de improviso, um contradiscurso ao dela, lembrando-lhe, entre outras coisas, de que o “mentiroso escritor” é alguém com os pés/cabeça fixados, de alguma forma, numa sociedade, numa realidade (seja física, seja psíquica etc.), qualquer que seja, e de que, por isso, também é um tipo de “arauto” de um dado momento sócio-histórico, pontuando e/ou mesclando vozes (formas de pensamento, inconscientes coletivos, visões de mundo, discursos, posições ideológicas, enfim) diversas, quer hegemônicas, quer antagônicas, quer heterogêneas etc., que merecem ser conhecidas, discutidas, avaliadas, rejeitadas, ou mesmo aceitas, se assim o quiser o leitor [e a sociedade] etc (perdoem-me o excesso de parênteses/intercalações e de etecéteras [et caetera]). Ou seja, tentei convencê-la de que a literatura (ficção) pode e gera conhecimento válido para a vida pessoal e social do indivíduo, em outras palavras, que o investimento (o gasto de energia e tempo) valeria sim a pena.

Assim, pensando no poder e na genialidade vistos a granel no trabalho da publicidade de outros produtos, criando inclusive necessidade de consumo, percebe-se o quanto a literatura (ficção), no Brasil, vai (e sempre foi) mal de publicidade. De todas as artes, é a que menos se observa, por exemplo, debatida nas grandes mídias. O romance histórico, por questões históricas (um trocadilho agora acho que cai bem), aqui-ali ganha um (parco) flash midiático.

Quantos leitores o sistema midiático brasileiro deixa de ajudar a criar, e querendo, por fim, responsabilizar apenas o indivíduo, isoladamente!!!

by Janete Santos

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