Lugar bonito (Monte Tabor)

Essa fotografia foi tirada numa área pertencente à Comunidade Terapêutica "Monte Tabor", local a umas dezenas de quilômetros de minha cidade natal, onde dependentes químicos, desejosos da desvinculação do que prejudica suas vidas, buscam nele apoio através da terapia ocupacional (que não é forçada, garanto). Vez ou outra, durante as férias, vou lá. Vale muito a pena partilhar de tudo isso com os moradores de um lugar cuja paisagem literalmente nos revigora. Alguns casais acabam se formando por ali, constituindo famílias... Numa de minhas visitas lá, observei crianças que ali nasceram, e fiquei conjecturando como elas devem acalentar sentimento de pertença àquele ambiente com outras possibilidades de desenvolvimento, de descontração, de entretenimento, mas também com outras dificuldades/necessidades, incluindo expectativas de algum futuro melhor fora dali, imagino.
O mentor de alocação e de uso daquele espaço (cuja entrada está à margem esquerda da BR 156 para quem sai de Macapá), o psicólogo cearense Tom Sobral, é um cara pra lá de especial (só pessoas especiais conseguem dedicar boa parte de suas vidas a um círculo maior de seres humanos, com os quais não têm relação de parentesco [sanguíneo]). Lembro de fatos que muito tocam aqueles que percebem os problemas sociais com a complexidade que efetivamente os constitui: as pessoas não são isso ou aquilo por mera decisão e vontade, há mais redemoinhos que água na luta de cada um de nós para que sejamos pessoas menos prejudiciais a nós mesmos e à sociedade.
Tom Sobral enfrentou algumas vezes oposição de gente indiferente às necessidades/razões dos menos afortunados. Algumas mães pobres (mães e pais abastados, e que amam seus filhos, têm condição de pagar advogado para fazer o que sua pulsão maternal/paternal sozinha não pode) tiveram a felicidade de encontrar socorro em Sobral, quando alguns de seus rebentos foram capturados pela polícia por uso de drogas (ou furtos para adquiri-las) e, como filhos de cidadãos comuns sem receber o mesmo direito dado aos filhos dos mais endinheirados, eram jogados no camburão e enviados às delegacias para em sequência serem encaminhados à penitenciária local, situação que destruiria ainda mais a vida de garotos desorientados, abrindo-lhes mais facilmente passagem para o mundo de crimes piores. A cadeia, com sua superlotação e tratamento desumano como comumente se vê no Brasil, não é lugar de correção para reabilitação de ninguém, pelo contrário, é universidade para aprimoramento de maldades infelizmente, é lugar onde a sociedade se vinga de quem pode, em geral do pobre que a incomoda.
Se investigássemos sobre qual seria o maior pesadelo de um agente penitenciário, de um policial, de um juiz ou mesmo de um advogado, possivelmente seria o pânico de imaginar algum filho seu lançado como inquilino das entranhas de um presídio, se presídio brasileiro, mais ainda. Sobral conseguiu resgatar alguns desses candidatos ao terror antes de serem lançados ao destino fatal, dando-lhes ao menos uma chance de algum reencaminhamento. Quem teve a felicidade de aproveitar a única faísca que a vida lhe acendeu se 'salvou' (em parte que seja). Não sei a história de cada um, mas sei do esforço do psicólogo para que tivessem a oportunidade de algum tratamento, de algum recomeço, o que é digno de registro.
(Janete Santos)

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