Dona Oswaldina (do Rosário Barbosa): meu reconhecimento


A primeira vez que nos encontramos fora de sua casa e conversamos um pouquinho, estávamos ambas na sala de espera da Rádio Difusora, para uma breve entrevista tematizando o dia da Mulher. Eu falaria do meu primeiro livro como mulher escritora amapaense, e ela sobre sua saga como mulher amapaense batalhadora que não temeu os desafios para vencer as dificuldades. Enquanto eu fazia das tripas coração para controlar meu nervosismo e a insegurança peculiar nessas ocasiões, dona Oswaldina esbanjava destemor e ansiedade para se fazer ouvida por quem estivesse ligado na emissora. Senti até inveja dela. Meus anos de escolaridade não suplantavam sua experiência de vida e sua auto-estima elevada, pois esta senhora sabia que não é qualquer um que tem a fibra que ela teve para dar conta, com dignidade, de tanta responsabilidade em meio à generosa escassez que por certo tempo a vida lhe impôs.

Nascida em dezembro de 1927, filha de português com brasileira, Oswaldina do Rosário Barbosa casou-se cedo e gerou seis meninos e seis meninas. Cedo, também, viu-se criando sozinha seus doze rebentos, hoje todos já estabelecidos na vida. Foi merendeira em escolas da Prefeitura de Macapá antes de se aposentar. Uma de suas características mais notáveis era a sinceridade à flor da pele com quem quer que fosse. Longe de usar rodeios para manifestar suas opiniões, não temia o status do político, comerciante ou servidor público que merecesse alguns dos seus ralhos, quando ligava para a Rádio Difusora a fim de fazer suas legítimas reclamações, denúncias ou mesmo elogios certeiros, quando cabíveis. Assim, ajudou a chamar a atenção para muitas questões periclitantes por que passavam certos bairros de Macapá e muitos idosos que aqui vivem, por exemplo. Isso fez de dona Oswaldina uma figura conhecida (e agora histórica) de nossa cidade, que a perdeu ontem 14/01, sábado pela manhã, aos 84 anos. Seu corpo foi velado na capela atrás do Hospital de Especialidades, a três quarteirões na mesma rua de sua singela e agradável residência, construída com a mesma honestidade dos valorosos trabalhadores brasileiros que são obrigados e suportam viver com seus parcos salários, diferentemente de bandidos do colarinho branco travestidos de políticos, empresários ou servidores públicos que, não bastassem seus altos proventos, lucros ou mordomias, surrupiam as finanças públicas até o último cuí que puderem aproveitar para posar de abastados homens (ou mulheres) do Poder Empresarial, Municipal, Estadual ou Federal.

Evidentemente que ela também recebeu a justa ajuda de seus filhos, tendo tido o privilégio de comparecer à formatura de curso superior de muitos deles. Seu corpo nesse momento está sendo sepultado no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no centro de Macapá.

Que descanse em paz o espírito desta brava senhora amapaense! É o desejo de todos os que aprenderam a admirar sua força, coragem e dignidade, apesar do pouco regalo que a vida lhe proporcionou na maior parte das vezes.

by Janete Santos

Comentários

  1. É verdade que ela sempre foi destemida, se tinha que ser dito dizia, pra quem quer que fosse, se tinha que ir fazer fazia. Ela sempre lutou por seus direitos e inclusive umas semanas antes do papai do céu a levar me dizia: "que aquele que não briga, não conhece e nem luta pelos seus, não tem o direito de reclamar", enquanto eu lia ao lado dela uma apostila de direito constitucional. Eu tenho orgulo da avó que tive, pois soube repassar muitos de seus ensinamentos para todos nós!Agradeço a minha vozinha que hoje olha por todos nós!
    E em nome da família agradecemos a homenagem!
    By: Brenda Barbosa

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  2. Brenda, foi uma honra poder homenagear dona Oswaldina, pois eu a admirava muito mesmo. Mulher de fibra, determinada, que não esmorecia ante os desafios da vida.

    abrs, Janete Santos

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